_Álvaro Viegas 13 janeiro 2017
Os tempos atuais são de mudança de paradigma político. Nunca em 43 anos de democracia tinha sido possível um entendimento entre os partidos mais à esquerda do nosso panorama político.
Depois de ultrapassadas as legítimas dúvidas sobre a consistência desta coligação parlamentar que sustenta o governo do PS, hoje é comummente aceite que esta experiência governativa irá durar uma legislatura. Até a Comissão Europeia e os DDT (donos disto tudo) os alemães parecem surpreendidos com esta experiência que irá contagiar outras democracias.
Perante este cenário, era expectável que a oposição (PSD+CDS) percebesse esta nova realidade e adaptassem um novo discurso e uma estratégia para 4 anos e não agissem como se o governo caísse amanhã.
O CDS percebeu bem cedo esta mudança e mudou de liderança. Mas mudar só de líder não chega. É necessário um novo discurso, nova mensagem política dirigida a alguns sectores específicos como sempre fez este partido, como o exemplo da lavoura, dos reformados ou dos combatentes.
No PSD a situação é mais complexa e mais difícil. O atual líder persiste em manter-se e pior do que isso a não aceitar alterar a sua postura (parece sempre um primeiro-ministro na reserva). O simples facto de aparecer com o mesmo pin que usou enquanto PM é revelador do que afirmo.
Perante estes factos e a manter-se o discurso do "para o mês que vem chega o diabo" ou "se espera pela troika em Janeiro", advinha-se uma longa travessia no deserto para a oposição. Claro que tudo se pode alterar dentro da coligação de esquerda. A economia resvala? O PCP retira o apoio ao governo? O BE torna a governação insustentável com as suas exigências e o governo cai?
Ou pelo contrário, o CDS e o PSD mudam de discurso e apresentam propostas alternativas aos portugueses? O PSD muda de líder e encontra uma personalidade que personifique a verdadeira social democracia que sempre foi de centro-esquerda e que o seu fundador Sá Carneiro defendeu e morreu por ela?
Tudo se clarificará até às próximas autárquicas. Outubro de 2017 será no meu ponto de vista o virar de página para o PSD. Se assim acontecer pode ser que a renovação da maioria parlamentar que sustenta o governo não seja um passeio em 2019.
* Advogado
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