03 dezembro 2015
A política da defunta coligação de direita funda- se em três mentiras descaradas, teimosamente repetidas: 1. Receberam Portugal falido por causa da governação do PS; 2. Recuperaram a economia, pagaram a dívida, relançaram o país; 3.O actual governo é ilegítimo.
Atentemos na primeira mentira.
Portugal não era excepção no conjunto dos países europeus, ou mesmo, a nível mundial. Todos sabemos hoje que, na mesma situação de Portugal, com o apoio da União Europeia, estavam falidas a Espanha, a Itália, a Grécia, a França, a Irlanda, e por aí fora. Também sabemos que, embora Sócrates não governasse nesses países, a crise estava lá. Culpa de Sócrates? Quem acredita? Foi a conjuntura mundial e a prática aconselhada por Bruxelas, onde imperava Durão Barroso, fervoroso adepto do investimento público até Merkel o mandar calar.
Sabemos igualmente que o governo de então apresentou na Assembleia da República, um programa aprovado por Bruxelas, com a assinatura de Ângela Merkel, que, à semelhança do que fizeram a Itália e a Espanha, evitaria a vinda da "tróica" e resolveria o pagamento da dívida soberana sem os sacrifícios que, depois, nos foram exigidos. Não haveria bancarrota, se o Peque 4 tivesse sido aprovado, mas acontece que Passos Coelho queria o poder, custasse o que custasse. Aliás, a recuperação aparente que a direita conseguiu só foi possível graças à baixa do preço do petróleo e a intervenção do BCE, além de outras alterações conjunturais que nada tiveram a ver com a governação. Tudo fundado numa ideologia política de empobrecimento do país e da sua transformação em gigantesca sopa dos pobres frequentada por pedintes.
Falemos da segunda mentira.
É falso que Portugal esteja melhor do que estava depois de Sócrates. Nem a dívida baixou, nem a economia parece assim tão saudável, nem Portugal ficou mais rico. Portugal, durante estes quatro anos desgraçados, perdeu milhares de pessoas qualificadas que foram obrigadas a emigrar, baixou o rendimento dos trabalhadores de forma escandalosa, não criou empregos reais, facilitou a precaridade do trabalho, vendeu as empresas que davam lucros, reduzindo dramaticamente o nosso património. Houve, pois, uma descarada protecção do grande capital e um desprezo absoluto pelos trabalhadores. Além disso, reduziu-se o estado social ao mínimo e quase tudo passou para o privado. Sobretudo, e não menos importante, destruiu-se a esperança dos Portugueses.
Quanto à terceira mentira, será que Cavaco Silva teve a ousadia de dar posse a um governo ilegítimo? Então agora já nem o vosso principal aliado respeitam? Se acham que podem governar, governem. Não conseguem? Pois não. Porquê? Porque ainda há uma Constituição que nunca respeitaram, mau grado toda a azia que vos consome. O governo forma-se na Assembleia da República, por escolha dos deputados eleitos pelos cidadãos portugueses, infelizmente para a direita, todos com os mesmos direitos. Não há deputados de primeira, nem deputados de segunda, por mais revisões da Constituição que queiram fazer. Ora, se o governo tem o apoio maioritário dos deputados, é legítimo. O contrário, isto é, formar um governo sem o apoio maioritário dos deputados, isso, sim, seria ilegítimo.
|